Hoje o Futeblog inicia mais uma série, o “Na Prancheta” onde toda semana terá uma análise tática feita pelo Eduardo Cecconi do blog Preleção (para conhecer o blog e mais análises é só clicar aqui).
Nas minhas análises táticas, tento fugir aos modismos modernos que provocam distorções na interpretação dos sistemas e estratégias. Há um esforço muito grande em dificultar a observação, com desdobramentos em quatro, cinco, seis, ou mais faixas verticais de campo…e este escalonamento forçado prejudica a definição de conceitos fundamentais da teoria tática - principalmente o de “função”. Pego a Holanda para exemplificar.
A Holanda, com Robben, mantém vivo seu histórico 4-3-3. O astro canhoto dos laranjas abre pela direita, o destro Kuyt atua pela esquerda, e Van Persie faz a referência central. No meio-campo, o triângulo é de base baixa, com dois volantes (De Jong e Van Bommel) e um ponta-de-lança central, o articulador Sneijder. A linha defensiva tem laterais pouco apoiadores (Van der Wiel e Van Bronckhorst) e dois zagueiros convencionais (Heitinga e Mathijsen). Simples assim. 4-3-3.
É um modelo diferente do utilizado pela própria Holanda na primeira fase. Sem Robben, entrou o meia Van der Vaart na equipe, pela esquerda. Kuyt foi recuado, pela direita, e alinhou-se ao novo companheiro, e a Sneijder. Configurou-se um 4-5-1 com três meias ofensivos, também conhecido por 4-2-3-1.
É forçoso impôr à Holanda do mata-mata a mesma interpretação. Com Robben, resgata-se o 4-3-3. Ele e Kuyt atuam em uma faixa mais adiantada do que faziam o próprio Kuyt e Van der Vaart na primeira fase. As diferenças são perceptíveis no posicionamento (partem de uma região mais próxima à área adversária, enquanto os meias no 4-2-3-1 partem de uma região intermediária) e na função (buscam diagonais e ingressam mais na área; articulam e também definem).
Evidentemente, tanto Kuyt como também Robben cumprem atribuições defensivas. Todo o atacante deve fazer isso. Acompanhar o lateral adversário é a principal. No 4-3-3, o atacante lateralizado precisa fazer isso, para não sobrecarregar os volantes no auxílio aos laterais. Se o lateral adversário não passar, não há motivo para ele recuar. Se passar, ele deve descer junto. Já no 4-2-3-1, os meias-extremos combatem por zona, acompanhando não apenas os laterais, mas qualquer jogador que ingressar na sua faixa de responsabilidade.
Para não acharem que estou teorizando demais, sugiro a observação da imagem que ilustra o post. São os heat maps de Kuyt em dois jogos. À esquerda, ele atuando como meia-extremo do 4-2-3-1 da Holanda contra o Japão, na primeira fase. Reparem que a área vermelha está na zona intermediária, e ele pouco avança, mantendo posicionamento mais rígido; e à direita está Kuyt atuando como ponta, no 4-3-3 da Holanda contra a Eslováquia. Notem que ele parte de uma região (em vermelho) mais próxima da área, é mais incisivo e também se movimenta mais.
Eduardo Cecconi
Redator de Esportes - clicRBS
http://twitter.com/eduardocecconi
www.clicrbs.com.br/prelecao
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