Não foram os contemporâneos da época que identificaram o ocaso da Idade Média. As modificações políticas, econômicas, sociais, catalisadoras da Idade Moderna tiveram diagnóstico anos depois. Nenhum cavaleiro saltou da montaria, agrupou seus homens, e disse: “voltem para suas casas, acabou a era medieval”. Transições históricas são percebidas com o distanciamento.
Assim acontece na História, assim também acontece no acompanhamento da evolução tática. Desencadeou-se um período de transformação no futebol. Para nós, contemporâneos, não há como se precisar os fatos, as datas, os protagonistas, ou ainda definir o que está acontecendo. Presenciar esta mudança nos obriga a arriscar, apontar tendências, prever. Como pode ter feito o mesmo cavaleiro, acredito, ao observar-se no espelho, contemplando toda a parafernália bélica de metal: “acho que este escudo vai sair de moda”.
A disseminação do 4-5-1 é o preâmbulo de um novo movimento tático. As equipes e seleções de melhor desempenho - seja no desdobramento para o 4-1-4-1, para o 4-3-2-1, ou principalmente para o 4-2-3-1 - prescindem do centroavante à moda antiga. Ao menos nas variações deste sistema percebe-se que o “homem de área” precisa se integrar à movimentação dos meias ofensivos, participando das combinações, das jogadas curtas, abrindo espaços, deixando a área para que os wingers possam se infiltrar, abrindo mão da referência.
Esta observação se ampara nas principais premissas ofensivas do 4-5-1 (reitero, principalmente no desdobramento para o 4-2-3-1): linhas adiantadas e movimentação do trio ofensivo de meio-campo. Para esta sincronia de jogadas curtas ter melhor resultado, a defesa adversária precisa se desorganizar. O centroavante de área facilita a marcação. O jogador que recua por dentro, abre pelos lados, troca de posição com qualquer dos jogadores da segunda linha, que entra na rotação das posições de frente, é mais útil. Sem perder a capacidade de conclusão dentro da área.
Exemplos: Chamakh, no Arsenal (4-2-3-1); Tevez, no City (4-1-4-1); Milito, na Inter (4-2-3-1); Van Persie, na Holanda (4-2-3-1). Combinam mobilidade para rodar posições com os meias e conclusão das jogadas para seguir conceituados como centroavantes, embora não presos na área.
Há, claro, exemplos contrários. Klose é centroavante à moda antiga e funcionou bem no 4-2-3-1 da Alemanha; Luís Fabiano teve bons momentos desta forma, na Seleção Brasileira. E também vale destacar: é uma projeção para o 4-5-1. E existem outros sistemas nos quais o “centroavantão” é imprescindível: o 3-5-2/3-6-1 à brasileira, que usa a ligação direta pelo alto buscando o rebote ofensivo.
Na Inglaterra, onde os cronistas esportivos são muito atentos à teoria tática, a participação do centroavante na rotação dos meias no 4-5-1 é conceituada por alguns como o embrião do 4-6-0. Não vejo desta forma porque o jogador de frente, apesar da movimentação, mantém seu posicionamento inicial ligado à frente da linha de meias, e quando recua para abrir espaços, a equipe sempre conta com o ingresso de outro jogador adiantado, mantendo a estrutura.
Para mim - posso estar enganado - exigem-se novas características do centroavante no 4-5-1 (mobilidade, agilidade, velocidade), mas a estrutura tática se mantém.
Eduardo Cecconi
Redator de Esportes - clicRBS
http://twitter.com/eduardocecconi
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