Discordo de quem compara a iminente chegada de Ronaldinho Gaúcho ao Grêmio com as contratações de Ronaldo pelo Corinthians, e de Adriano pelo Flamengo. E, obviamente, não falo de marketing – onde as ações podem ser parecidas – pois não sou publicitário, e meu assunto predileto é futebol. Assim como a razão de ser dos clubes ‘de futebol’ é esta: vencer jogos e conquistar títulos. Portanto, na comparação ‘futebolística’, é grande a diferença.
Ronaldo e Adriano sempre foram centroavantes. O Fenômeno, o próprio apelido diz, era um centroavante diferente, que combinava posicionamento e oportunismo com velocidade e técnica. Já o segundo nunca deixou o espaço restrito da grande área. Ambos, mesmo fora de forma e desinteressados, ainda fazem gols contra clubes brasileiros porque continuam sendo bons jogadores de referência.
Homens de área, função que não exige forma física invejável, nem preparo, nem jovialidade. Mesmo fora de forma, com mais idade, e algum desinteresse, no último toque é mais relevante a inteligência no posicionamento e a técnica na conclusão. O time trabalha a bola para eles, que têm a responsabilidade apenas do toque final. Não importa se estão mais gordos, mais velhos, ou mais preguiçosos. Ali na área é com eles. Dá certo.
Ronaldinho Gaúcho não é centroavante. É um criador de jogadas. Tanto como ponta-de-lança, nas posições mais ofensivas do meio-campo, como também no ataque, o camisa 80 do Milan notabilizou-se pela articulação. Não é um artilheiro, embora marque seus golaços de fora da área, ou em cobranças de falta. Movimenta-se em área muito maior de campo. Provavelmente, não conseguirá tornar-se um centroavante. Seguirá atuando nas zonas de organização da equipe.
É por isso que o declínio físico e o desinteresse comprometem muito mais o futebol de Ronaldinho, na comparação com Adriano e Ronaldo. Ele não pode, agora, tornar-se um centroavante, porque não é sua característica. Precisa continuar atuando na intermediária ofensiva, ou nos lados da área, onde enfrenta marcadores com cobertura, tem campo à frente para desenvolver velocidade. Parece-me, portanto, mais lógico utilizá-lo como atacante no Grêmio.
Na simulação acima, partindo-se da base tática de Renato Gaúcho em 2010 – o 4-4-2 em losango – Ronaldinho e Jonas formariam uma dupla de ataque sem homem de referência. Muitos times jogam assim. Quando um leva a bola para o lado, o outro faz a diagonal para a área. Movimentam-se, invertem posições, e contam com a aproximação de Douglas. André Lima e Borges sobrariam do time.
A segunda hipótese, no diagrama acima, obedece ao mesmo critério. Ronaldinho liberado das atribuições defensivas. Ele ocuparia a posição de Douglas, com André Lima/Borges e Jonas no ataque. Acho bem mais complicado vê-lo atuar como ponta-de-lança, porque entre intermediárias ele precisará de mobilidade que não mais existe, em função do excesso de peso, da perda de força, da diminuição da velocidade e da agilidade. Ainda assim, é possível.
Muitos amigos cogitam ainda ver Ronaldinho e Douglas atuando no meio-campo, em lugar de Lúcio – diagrama acima. Acredito que isto forçaria uma variação tática com o natural recuo de Jonas, em espécie de 4-2-3-1 – afastando Jonas da área, onde tornou-se goleador do Brasileirão, para compensar o protagonismo de Ronaldinho pela esquerda.
Imagino que Fábio Rochemback e Adilson tenham pesadelos com esta hipótese. Se Renato autorizou Douglas a priorizar a posse de bola, imaginem o habeas corpus reivindicado por Ronaldinho para não marcar. Vai sobrecarregar a dupla de volantes e desconstruir o modelo defensivo do trio na base do losango elaborado com sucesso nesta temporada. Comentei, com humor, que para isso seria necessário ao Grêmio contratar também o Gravesen e o Gattuso, ou então o De Jong e o Mascherano. E avisar aos dois volantes: batam até na sombra que ninguém vai voltar para ajudar.
RESSALVAS: Essas projeções levam em consideração o modelo tático legado por Renato para 2011, e os jogadores do grupo atual. Podem ser contratados outros reforços além de Ronaldinho, e o treinador pode ainda rever o sistema tático e a estratégia a partir dessa jogada de marketing.
Eduardo Cecconi
http://twitter.com/eduardocecconi
http://analisestaticas.wordpress.com/
0 Com a Palavra:
Postar um comentário