A pedidos de muitos leitores, trago ao debate deste feriado no blog Preleção a última coluna do cronista britânico Jonathan Wilson, publicada no blog The Question do jornal The Guardian, sob o título: Why are teams so tentative about false nines? If players who appear to be playing centre-forward, but drop deep, are so dangerous, why don`t more teams trust the system? (na tradução, algo mais ou menos assim: Porque os times hesitam tanto em usar um falso-nove? Se estes jogadores que deveriam ser centroavantes, mas recuam, são tão perigosos, porque mais times não confiam neste sistema?) – leiam aqui a coluna original.
A questão é simples: centroavante fixo ou de movimentação – o dito falso-nove? E essa pergunta o aflige especialmente, é óbvio, pela observação no futebol inglês. Mas ele também cita exemplos de outros grandes clubes de Europa, como o Barcelona. Segundo Wilson, Manchester United e Barcelona perdem taticamente trocando o falso-nove (respectivamente Tevez e Eto`o) por centroavantes ortodoxos de área (Berbatov e Ibrahimovic).
O raciocínio principal é sobre a indefinição na marcação. O centroavante de área joga posicionado, tendo um zagueiro em seu encalço, e liberando o outro para a cobertura. A marcação está definida, mesmo que antes essas coberturas fossem feitas por um lateral-base. Mas, como os meias-extremos estão cada vez mais ofensivos, os laterais precisam “bater” com estes wingers, e não conseguem mais fechar a área com eficácia no 4-4-2 britânico. Na teoria, e neste caso, o centroavante ortodoxo facilita as coisas para o adversário.
Para Wilson, no espelhamento de sistemas em duas linhas, ou apenas no confronto de qualquer sistema contra uma linha defensiva de quatro jogadores, é mais lógico atuar com um falso-nove. Afinal, se os laterais estão preocupados com os extremos, se o atacante de área recua para buscar jogo, cria duas situações: ou traz consigo o zagueiro, abrindo espaço na área; ou, se o zagueiro não o persegue, cria espaço para ele mesmo girar e partir com bola dominada. Ou seja, indefine a marcação.
Acredito que há alguns aspectos culturais e outros pontuais interferindo na aceitação plena do argumento de Jonathan Wilson. Existem sistemas, seleções ou clubes que não prescindem do camisa 9 típico – o caso da própria Inglaterra e da figura histórica do centroavante no 4-4-2 britânico. Em outros, entretanto, a tradição é jogar apenas com atacantes de movimentação – a história recente do Inter, por exemplo, que enfileirou Nilmar, Daniel Carvalho, Pato, Alex, Sóbis, Iarley…o que leva a torcida a resistir tanto à mudança de estilo proporcionada pela figura do 9, o vaiado Alecsandro.
As questões pontuais dizem respeito ao elenco. Se um time não tem bons “falsos-noves”, não pode fazer uso desta tática individual. É o caso do Bayern de Klinsmann, que tinha Podolski em má fase, mas dois centroavantes de área fazendo gols (Luca Toni e Klose), escalando ambos simultaneamente. A Juventus faz isso hoje com Amauri e Iaquinta, ao invés de colocar Del Piero na frente. Já na Argentina, Maradona lançou mão de vários “falsos noves” – Tevez, Agüero… – mas só se deu bem nas Eliminatórias quando abriu espaço para o centroavante ortodoxo (Palermo e Higuaín).
Há ainda os centroavantes ortodoxos que conseguem fazer o pivô, saindo da área e trazendo a marcação consigo, sem necessariamente se transformar no “falso-nove”. Continuam sendo centroavantes, camisas 9, mas com alguma movimentação em espaço restrito. Vejo em Adebayor esta característica: está na área, cabeceia, conclui, mas de vez em quando sai, puxa a marcação, faz as suas jogadas, sem deixar de ser um centroavante.
Jonathan Wilson finaliza a análise trazendo o Arsenal como o eterno exemplo da vanguarda no futebol inglês. Ele lembra que os Gunners inovaram com o falso-nove Bergkamp nos anos 90, e hoje têm em Van Persie “o falso-nove do futebol europeu no momento”. No 4-5-1 com três meias ofensivos, Van Persie tem atuado realmente como falso-nove, saindo da área para os ingressos dos wingers – Arshavin e Bendtner (um centroavante ortodoxo usado agora como meia-extremo, invertendo posição com o holandês).
Caso-a-caso, a questão de Jonathan Wilson é muito oportuna para os treinadores: levando-se em consideração o sistema, o elenco, e a cultura tática, qual a melhor solução? Centroavante ou falso-nove? Nos exemplos citados por ele, acredito, a análise acerta em todos: o Barça perde sem Eto`o, o Manchester perde sem Tevez, e o Arsenal ganha com esta inversão entre Van Persie e Bendtner.
Postado por Eduardo Cecconi
Postado no dia 2 de novembro de 2009
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