Repetirei dois conceitos que defendo para a boa aplicação do 4-5-1 com três meias ofensivos (ou 4-2-3-1): movimentação e rotação de posicionamentos na segunda linha do meio-campo; e centroavante com mobilidade para participar das combinações com o trio que lhe dá suporte. E em 23 de janeiro – leiam aqui – escrevi que Tite conseguira alcançar a primeira das prerrogativas deste sistema tático, mas não a segunda. Havia inversões entre os meias ofensivos, mas faltava a participação de Ronaldo na sincronia de movimentos do Corinthians.
Com Liédson, entretanto, o Corinthians incrementa seu 4-2-3-1. O centroavante chega de Portugal e encontra uma base tática estruturada, mas carente de um jogador com suas características. Ágil em espaços curtos, veloz nas arrancadas mais longas, e qualificado na execução de passes e conclusões, Liédson completa a engrenagem ofensiva deste sistema. Com melhor condicionamento físico à época, Ronaldo foi o protagonista de modelo semelhante com Mano Menezes em 2009, contribuindo para a aplicação bem sucedida das ideias do hoje técnico da Seleção Brasileira.
Mal interpretado, o 4-2-3-1 corre o risco de engessar a equipe. Para isso, basta abrir os meias-extremos e manter rígidos os posicionamentos iniciais. Sem a bola a equipe recua para marcar, e na transição ofensiva encontra muito campo a se percorrer. Pior: campo em excesso, e ocupado deficitariamente por seus jogadores, distantes uns dos outros.
Por isso, é bom para o Corinthians quando Tite permite que Jorge Henrique saia da esquerda e passe para o meio, ou para a direita, e que Dentinho e Morais (meia-central na vitória de 3 a 1 sobre o Santos) façam o mesmo – o diagrama tático que ilustra o post refere-se ao Corinthians do clássico de domingo passado. E mesmo quando os posicionamentos iniciais são mantidos, não há motivos para a linha permanecer sempre esticada. O setor pode se compactar, aproximar-se mais, alternando as tabelas curtas com as longas inversões de bola, esticando novamente a segunda linha com a abertura dos extremos conforme a circunstância do jogo.
Sob esta perspectiva, um centroavante com mobilidade é essencial. Se os meias estão marcados, se o adversário empurra seu time e afasta o trio ofensivo da área, ele precisa movimentar-se. É o que faz Liédson. No Corinthians, Liédson não se resigna com eventuais desabastecimentos. Quando a bola não chega, por qualquer motivo (meias extremos marcados, linhas demasiadamente recuadas, movimentação restrita dos meias…) ele provoca o acionamento das engrenagens aproximando-se dos companheiros, arrastando consigo a marcação, e abrindo espaços para que Jorge Henrique, Dentinho e Morais possam fazer ultrapassagens e infiltrações. Não à toa, está marcando muitos gols logo em sua chegada.
Mantido o sistema, definidos os nomes, o próximo passo de Tite no Corinthians provavelmente será intensificar esta movimentação. Criar um repertório de combinações imprevisível para o adversário. Envolver Jorge Henrique, Dentinho, Morais e Liédson – sendo estes os escolhidos para a titularidade – em uma sincronia de movimentos rica em possibilidades: meias-extremos ora abertos, ora próximos; inversões de posicionamentos; diagonais para a passagem do lateral, ou então aprofundamento de jogadas em auxílio ao lateral; tabelas curtas e infiltrações centrais; inversões com bolas longas; ingresso dos meias na área como atacantes; recuo do centroavante para armar o jogo e abrir espaços; saída do atacante para os lados da área atraindo o meia-central ou algum extremo para a função de centroavante…são algumas das possibilidades proporcionadas pelo 4-2-3-1 bem aplicado.
Para dar certo é preciso treinamento, repetição, entrosamento e paciência. Afinal, muitas destas combinações nascerão durante os jogos do improviso dos próprios jogadores, que precisam alcançar um grau de sintonia capaz de tornar naturais estes movimentos. É o fortalecimento da base tática e o treinamento destas possibilidades que permitirá aos jogadores entenderem durante os jogos quais variações são mais relevantes para o momento.
Eduardo Cecconi
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