Sou fã confesso do 4-4-2 britânico, o four-four-two das ‘duas linhas de quatro’, quaisquer que sejam as variações – com dois atacantes, um volante entre as linhas (4-1-4-1), ou um ponta-de-lança à frente do meio-campo (4-4-1-1). Este último foi o sistema tático utilizado por Sir Alex Ferguson na vitória de ontem do Manchester United sobre o Schalke 04, fora de casa, por 2 a 0 – abrindo excelente vantagem nas semifinais da Uefa Champions League.
E o grande destaque foi Giggs. Desta vez, não como winger pelo lado esquerdo, mas sim como box-to-box centralizado. Com inteligência tática acima da média para cumprir qualquer função neste sistema – há poucos dias ele foi improvisado na lateral-esquerda durante partida com expulsão – o veterano galês orquestrou o time inglês na vitória em território alemão.
Winger e box-to-box são duas táticas individuais de alta relevância para o sucesso do 4-4-2 britânico. O winger pode ser traduzido por ‘meia-extremo’, ou ‘externo’, jogador que posiciona-se aberto na segunda linha, combinando jogadas agudas até o fundo do campo e diagonais incisivas na direção da área. Ele pode, além do tradicional ‘winger ofensivo’, ser um ‘winger armador’ – como Giggs habitualmente se comporta – organizando a equipe com passes longos, inversões, cruzamentos e assistências, mesmo que deslocado para o lado, e não centralizado conforme a cultura do futebol brasileiro exige.
Já o box-to-box é o meia central encarregado de, sem a bola, ser um ‘volante’, e com a bola transformar-se em apoiador. A tradução literal é ‘de área a área’, ou seja, o jogador que defende à frente da própria área sem a posse, e avança até a área adversária com ela. Box-to-box contra o Schalke, Giggs foi o segundo jogador que mais correu no Manchester (mais de 11 quilômetros, abaixo apenas do volante Carrick). Confiram no heat map do site oficial da Uefa a movimentação em amplo espaço de campo executada por Giggs:
Ferguson criou ainda uma tática de grupo interessante, no lado esquerdo: Rooney, que atuou à frente da linha de meio-campo neste 4-5-1 desdobrado em 4-4-1-1, ora abria pelo lado esquerdo, trazendo o winger Park para o centro. Giggs e Evra também participaram desta engrenagem, integrando-se aos movimentos que desorganizaram a marcação alemã.
Disposto em um confuso 4-4-2 desdobrado em 4-1-4-1 sem a bola, e em 4-1-3-2 com a bola, o Schalke não soube conter a movimentação criada pelo Manchester entre a esquerda e o centro do campo. Primeiro volante, Papadopoulos aprofundava demais o posicionamento, formando uma linha de cinco defensores, e abrindo a intermediária para as infiltrações de Rooney, Chicharito, Giggs ou Park.
Ferguson, que por vezes tem recaídas demasiadamente defensivistas em jogos importantes, ontem foi brilhante. E Giggs, deslocado de sua posição original, deu aula no cumprimento da função do ‘box-to-box’.
Eduardo Cecconi
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