Em 1973, após a eliminação na Uefa Champions League para o Estrela Vermelha com derrota de 2 a 1, dirigentes e comissão técnica do Liverpool reuniram-se no ‘boot-room’ do Estádio Anfield Road. Estavam positivamente impressionados com o controle da posse de bola proposto pelos eslavos.
Desta conversa, descrita com primoroso detalhamento no livro ‘Inverting the Piramyd‘ do jornalista inglês Jonathan Wilson, nasceu o 4-4-2 em duas linhas. Sistema criado, em princípio, como resposta às trocas de passes típicas dos clubes do Leste Europeu, cujo DNA carregava consigo as influências da Danubian School que inspirou em anos anteriores húngaros, austríacos e tchecos.
Dalglish, sucessor de Rafa Benítez, começou seu trabalho no Liverpool ignorando este precente histórico. Durante bom tempo recorreu aos três zagueiros, em um 3-6-1 com quadrado ou losango no meio-campo. Logo depois voltou ao 4-4-2, mas com Carragher de lateral-base pela direita, disfarçando a permanência dos três zagueiros.
Mas no empate em 1 a 1 com o Arsenal, final de semana, o Liverpool atuou no seu legítimo 4-4-2 em duas linhas, originário do boot-room de Anfield Road. A estratégia, entretanto, foi a mesma que deturpou o primeiro ideal do sistema tático – que era a valorização da posse de bola, mas acabou consagrando nos anos 80 o futebol inglês estereotipado como ‘retranca e chuveirinho’.
Nas duas linhas de Dalglish o Liverpool cede a posse de bola. O Arsenal controlou o jogo por 62% do tempo. Na Premier League, ninguém marca mais que o time de Anfield. O Liverpool é a equipe que mais desarmes praticas – e Lucas é o jogador com maior incidência de roubadas de bola na competição.
Com defesa e meio-campo recuados e agrupados, próximos da entrada da área, o Liverpool cede campo ao adversário mas bloqueia com o paredão de oito jogadores a própria área. Nas transições ofensivas, aposta nas saídas pela direita com Kuyt e do centro para a esquerda com Suárez. Raúl Meireles sai da extrema para receber o primeiro passe, e os volantes Lucas e Spearing não se comportam como ‘box-to-box’, priorizando quase que exclusivamente o combate.
Eduardo Cecconi
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