Não foi fácil – e somente os resultados recentes permitiram isso – para Tite ver sua filosofia de jogo aceita em São Paulo. Estudioso, vê na teoria tática uma ciência a ser aplicada. Por isso carrega em seu discurso, por vezes ironizado na tentativa de se superficializar a análise (aprofundar é mais cansativo, convenhamos), tantas terminologias. Busca, sem ser clichê, o equilíbrio – que parte, necessariamente, da eficiência simultânea entre defesa e ataque.
É desta forma que o Corinthians se mantém na liderança invicta do Campeonato Brasileiro, com oito vitórias em nove jogos: esmerando-se na marcação e no combate tanto quanto na transição ofensiva. No sistema tático 4-5-1 com três meias (ou 4-2-3-1) descrito no diagrama tático que ilustra o post, venceu o Inter ontem por 1 a 0, escore que de forma alguma trará insônia a Tite. Não há constrangimento em vencer pelo placar mínimo, desde que se alcance a vitória.
Tite ampara a segurança da melhor defesa da competição – apenas 4 gols sofridos – no trabalho dos volantes Ralf e Paulinho. À frente da linha defensiva, eles dão suporte ao quarteto ofensivo ‘carregando o piano’ entre as intermediárias. Ralf pouco mais recuado, à esquerda, enquanto Paulinho comporta-se como um segundo volante – um apoiador, que combate e avança, mais à direita.
Contra o Inter, mesmo no Pacaembu, a posse de bola corintiana foi inferior – 47%. Mas a segurança defensiva foi absoluta. 9 oportunidades criadas, contra apenas 4 do rival, e uma estatística impressionante nas recuperações de bola: 51 (sendo 19 desarmes diretos), frente a 33 (sendo 15 desarmes diretos) dos colorados.
Não à toa, o Corinthians é a equipe que mais realiza recuperações de posse de bola no Brasileirão: em nove rodadas, soma 446 (sendo 137 desarmes). E o que é mais importante, acima de tudo, para atingir este índice? Organização, fidelidade dos jogadores ao posicionamento inicial e à recomposição da formação tática sem a bola, aplicação de todos no cumprimento das atribuições defensivas, com ocupação inteligente de espaços e comprometimento nas coberturas eventualmente necessárias. Contexto que tem nas figuras de Ralf e Paulinho os protagonistas.
Contra o Inter, que atuou no predileto 4-4-1-1 de Falcão – saiba como – Ralf realizou 15 recuperações, e Paulinho outras 9. Os campeões do jogo neste fundamento. No lado colorado, o principal interceptador dos adversários foi Guiñazu, com apenas 7 recuperações – menos da metade de Ralf. E com um detalhe interessante: o Corinthians teve menos posse, realizou 51 recuperações, e precisou cometer apenas 10 faltas em todo o jogo. Ou seja, os desarmes são executados de forma limpa.
Reitero a constatação, para concluir a análise do bom desempenho do Corinthians neste 4-2-3-1: a equipe de Tite consegue alcançar o maior índice de recuperações de bola com desarmes limpos, e se mantém como a melhor defesa, em função da boa distribuição dos jogadores. Um time organizado comete poucas faltas e desarma mais porque os jogadores estão ocupando os espaços certos.
Eduardo Cecconi
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